domingo, 25 de março de 2007

Baloiço...

A tarde estava quente... indiscritvelmente quente, e a areia da praia estava-o ainda mais... mas ele não se importava... afinal de contas estava de férias e tudo o que lhe convinha naquele momento era ver-se dentro de água a divertir-se.
Ele tinha apenas sete anos, quando me lhe juntei, quando fiquei ligado a ele e comecei a descrever pela primeira vez aquilo que seria a sua existência.
Um simples rapaz cujas únicas obrigações nequele momento eram ficar junto do seu tio, pelo menos segundo a sua mãe. Mas o que respeita uma criança de sete anos numa praia logo após ter visto o seu melhor amigo.
Não tardou, já ele se tinha desembaraçado da vigia do tio e ido ter com o primo, com o qual prontamente começou a conversar, tendo daquelas conversas que só os rapazes de sete anos conseguem ter sem parecerem perfeitos idiotas.
Deram por si, estavam dentro de água, cada um com a sua brincadeira planeada, esbracejando ao sabor da corrente, até que aconteceu...
Ele ainda não sabia nadar e o seu primo pouco mais que ele era capaz, pelo que de nada lhes serviu o que quer que fosse quando deram por si na tão famosa cova que existe no banco de areia da praia.
Nos escassos trinta segundos, que ainda hoje sei terem sido uma agonizante eternidade para ambos, debateram-se, num cruel baloiço, enquanto cada um deles tentava alcançar a superfície, para poder ao menos ir buscar aquele pouco ar que os iria manter a debetarem-se por ainda mais ar.
Ele, na sua infantil presença de espírito, tentava alcançar a boia de uma pequena menina que, a pouco mais de meio metro, nadava sob o amparo de duas senhoras que ao seu lado se encontravam, para poder em seguida puxar para si o seu primo, enquanto este se debatia igualmente por alcançar o banco de areia, com o mesmo fim de os salvar.
No entanto, ao seu esforço contra aquilo que seria, até então, a sua derradeira batalha pela vida, eram comentados pelas senhoras com a cruel, mas nunca mal intencionada expressão: 'Que engraçado! Estão a brincar!!'.
Nunca o desepero dele fora tal, mas afinal de contas, ele apenas tinha sete anos, e nunca se vira obrigado a lutar com aquele que era então o seu melhor amigo, pelo sopro de ar seguinte, pela superfície, que colocava dois amigos, no lugar de inimigos, num diabólico baloiço de inspira, expira, sobe e desce, do qual nunca esperaram sair com vida.
A luz do Sol, quer á superficie, quer por entre o sal e a água, era a única imagem clara que este podia ver, isto é, antes de se deparar ao lado do seu primo, a tossir os poucos restos de água que ainda tinha nos pulmões, deitado em segurança na areia, a tão quente areia, que o aquecia como o seu cobertor o fazia nas noites frias.
Depois de ter pela primeira vez enfrentado a morte, depois de ter sido salvo pelo pai do seu primo, a única coisa que se lembrou de dizer, na sua infantil precepção da realidade, foi: 'Já viste que iamos morrendo... Será que se fossemos para o paraíso haveriam lá televisões para vermos os nossos desenhos animados?'

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